O Líder. O Político...e o Talento
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O Líder. O Político...e o Talento

 

Tenho dedicado grande parte da minha vida à Liderança, ao seu estudo, formação, treino e aplicação intensivos, assim como à potenciação de talentos quer a nível individual quer a nível colectivo.

Considero ser o momento oportuno, o meu momento oportuno, para correlacionar estes três temas que estão na ordem do dia.

Nunca, até hoje, toquei publicamente no tema da política, não por não gostar ou por não me querer envolver em questões desta natureza, por mas achar que, ainda que toda a gente tenha naturalmente direito à opinião, não é por ter esse direito que a deva expressar em toda e qualquer circunstância só porque sim. Até porque, as opiniões são como “os narizes - toda a gente tem um e normalmente diferente”.

 

No entanto, quero abordá-los e correlacioná-los através de uma lente um pouco diferente, penso, do comum.

Vamos então ao Líder, ao Político e ao Talento.

 

O Líder

Nunca como agora foi tão urgente repensarmos a definição de liderança e o papel dos lideres na sociedade. Liderança, para mim, é mais do que um conjunto de técnicas ou competências. É uma forma de ser, de estar, de pensar, de sentir e, acima de tudo, de agir. Liderança é uma atitude que determina como nos apresentamos ao mundo e como impactamos os outros.

A verdadeira liderança não se mede pelo tamanho da conta bancária, pelo número de pisos do escritório ou da potência do carro que conduzimos. A verdadeira liderança mais do que uma oportunidade, é uma responsabilidade. Ela é bem visível na forma como tratamos as pessoas, como inspiramos confiança, como construímos e contribuímos para algo maior do que nós. Um verdadeiro líder é aquele que tem a capacidade de ver o melhor nos outros, especialmente quando eles próprios ainda não o conseguem.

E este é um dos papéis mais importantes de um líder: criar condições para que as pessoas que estão sob a sua liderança prosperem, mesmo que para isso seja necessário abdicar da sua própria posição de conforto.

Quando os líderes são autênticos e íntegros, o seu verdadeiro impacto transcende qualquer raça, religião, crença, idade ou nível de educação.

Para mim, a liderança deveria ser ensinada desde cedo como uma capacidade basilar chave que molda o carácter e a visão de uma pessoa. Nas escolas, em vez de apenas formarmos e formatarmos seres humanos técnicos, deveríamos estar a educar e treinar líderes, porque serão eles que terão a enorme responsabilidade de construir o futuro, porque tudo começa e acaba na liderança.

Precisamos de uma educação que desenvolva o pensamento crítico, a empatia, a humildade, a coragem, a ética, a moral, a responsabilidade e a colaboração.

As crianças, não excluindo natural e obviamente os adultos, deveriam ser incentivadas a pensar e a questionar-se. A ver o erro como uma oportunidade de crescimento, como mais um degrau do processo de crescimento e não como um fracasso como algo punível. Na altura em que estamos no desenvolvimento da nossa personalidade, se olhamos para o erro como uma fatalidade e não como uma oportunidade de melhoria, estamos a contribuir intensamente para a construção de adultos frágeis e inseguros, que evitam errar a todo o custo (por vezes camuflando resultados e passando por cima de tudo e todos), o que faz com que, evitemos que a pessoa cresça verdadeiramente.

 

Um líder cria um ambiente de confiança através da sua influência.

Mas há uma linha tênue entre influência e manipulação. A manipulação transforma um líder num tirano que usa o poder para obter benefícios próprios.

Já a verdadeira influência positiva eleva e promove o crescimento, criando seguidores que estão lá porque confiam e acreditam, e não porque são obrigados. A influência positiva é a base de uma liderança ética, autêntica e integra, que gera lealdade e um sentido de missão partilhada.

 

Como disse Mahatma Gandhi: “Quem não nasce para servir, não serve para viver.”

Esta frase, para mim, capta a essência do espírito da liderança: liderar é servir e é colocar-se ao serviço dos outros para construir algo maior, positivo e duradouro.

 

Numa sociedade onde a verdadeira liderança é ainda uma enorme carência, nunca como hoje foi tão necessário termos verdadeiros líderes, capazes de inspirar, unir e transformar as suas comunidades com uma visão positiva e um compromisso com o bem comum, seja nas empresas, nas comunidades locais, num País ou num Continente.

 

Considero adequado, até para podermos estabelecer o paralelismo e enquadramento com o ponto seguinte, trazer aqui os 5 níveis da Liderança, conceito desenvolvido por John C. Maxwell, um dos pensadores, autores e líderes com mais impacto positivo das últimas décadas a nível mundial. A Maxwell Leadership, organização pela qual tenho o privilégio de deter uma certificação em Coaching de Liderança, é a maior organização de formação e capacitação em liderança do Mundo, tendo formado e treinado até hoje mais de 6 milhões de líderes em todos os Países do Mundo! Imaginemos??!! Mais de metade da população Portuguesa! Um lastro impressionante que traz muita substância e experiência ao que aqui partilho.

Os cinco níveis da liderança, que deixo aqui telegráficamente, dão-nos uma estrutura para poder compreender como o impacto de um líder se transforma à medida que ele progride. Estes níveis aplicam-se tanto a líderes empresariais quanto a líderes políticos e podem servir um pouco como régua para medir a qualidade e profundidade da liderança que exercem.

 

★ Nível 1: Posição

O nível da posição é o nível básico, onde a liderança é atribuída por um título ou pelo cargo, sem necessariamente envolver verdadeiro respeito ou compromisso. Recebermos um cargo é o inicio do nosso caminho como líderes, não o fim. Muitos líderes acham que só por terem seguidores, automaticamente as pessoas confiam neles, nada de mais errado! Um líder que opera apenas ao nível da posição/função depende sempre da autoridade formal, o que limita o seu impacto e o respeito genuíno de todos os outros.

No que toca aos seguidores neste nível:

      • As pessoas seguem o líder porque são obrigadas;
      • A palavra que os representa neste nível: Direitos (invocação constante dos seus direitos).

 

★ Nível 2: Permissão

No nível dois, o líder começa a construir relações com os seus seguidores e a ganhar o seu respeito genuíno, criando um clima de confiança. As pessoas seguem-no, não apenas pela sua posição, mas porque se sentem compreendidas e valorizadas. O líder liga-se verdadeiramente às pessoas, ouve-as, cria relações baseadas na empatia e no compromisso. Valoriza o contributo individual e constrói uma cultura onde todos se sentem mais do que apenas “recursos”.

Os seguidores neste nível:

      • Seguem o líder porque o querem seguir;
      • A palavra que os representa neste nível: Relações (gostam do líder).

 

★ Nível 3: Produção

Já no terceiro nível, o líder atinge resultados concretos e palpáveis, o que ajuda a fortalecer a sua influência positiva, a sua legitimidade e a sua autoridade informal. Aquilo que produz torna-o confiável, uma vez que mostra a capacidade de cumprir promessas e de gerar mudanças reais e tangíveis. Este é um nível essencial para construir uma reputação sólida e para que a liderança seja vista como competente e eficaz.

No que toca aos seguidores neste nível:

      • As pessoas seguem o líder pelo que ele fez pela organização/empresa/País/etc;
      • A palavra que os representa neste nível: Produção (seguem-no pelo que faz, não apenas pelo que diz).

 

★ Nível 4: Desenvolvimento de Pessoas

No quarto e penúltimo nível, o líder começa a investir no desenvolvimento e potenciação de novos líderes. Não está focado simplesmente em gerar resultados, mas em fomentar uma cultura de crescimento, formando e incentivando outros a atingirem o seu potencial máximo. Isto é crítico para uma liderança sustentável uma vez que prepara outras pessoas, desenvolvendo continuamente talentos, para dar seguimento à missão e ao propósito.

No que toca aos seguidores neste nível:

    • As pessoas seguem o líder pelo que fez por elas a nível pessoal, ou, pelo que construiu que os ajuda a crescer;
    • A palavra que os representa neste nível: Reprodução (vêem o Líder como um modelo a seguir).

 

★ Nível 5: Respeito

O quinto e último nível da liderança, é o nível onde o líder é seguido pelo impacto profundo e positivo que teve nas vidas das pessoas. O respeito é conquistado pelo legado que o líder construiu, pela integridade e pelo exemplo de vida que vai deixando. É o nível onde a liderança se torna um legado que transcende o tempo e as circunstâncias.

No que toca aos seguidores neste nível:

    • As pessoas seguem o líder pelo que ele é e pelo que representa;
    • A palavra que os representa neste nível: Respeito (vêem o Líder como um modelo a seguir).

 

Notas:

  • Os cinco níveis são cumulativos, ou seja, vamos sempre de 1 para 5, e não há atalhos (ainda que muitos tentem fazê-lo);
  • Quando iniciamos uma nova função ou trocamos de empresa/organização/País, começamos sempre do nível 1;

 

E como é que tudo isto se correlaciona com Política?

 

O Político

A política, segundo Aristóteles, é uma extensão da convivência humana, começando no núcleo familiar, expandindo-se para o resto da sociedade. Política não é apenas algo que pertence a um círculo de autoridade. É o modo como nos relacionamos e contribuímos para o bem-estar colectivo. No entanto, é curioso notar como, para muitos políticos, a liderança é vista apenas como um título e não como uma responsabilidade.

O político deveria ser o líder da “maior empresa nacional”, alguém com uma visão de futuro que inspire e conduza a sociedade para um caminho de crescimento sustentável. No entanto, quantos dos nossos políticos possuem formação ou treino em liderança? Quantos se preocupam em desenvolver competências de empatia, visão estratégica e integridade? A realidade é que a liderança política, para ser eficaz, precisa de uma base de competência e de valores. Não basta ocupar uma posição, é preciso saber liderar com autenticidade, capacidade de decisão e empatia.

A construção de um clima de confiança é fundamental para um político. A confiança é o pilar da coesão social e, quando ela está ausente, o sistema político transforma-se num espaço de desconfiança, onde os cidadãos se sentem alienados e desiludidos. Um político que inspira confiança é aquele que age de acordo com os seus princípios, que é coerente nas suas ações e que respeita a inteligência e a vontade do povo que representa. É alguém que não se coloca acima dos outros, mas que serve como representante legítimo e como catalisador para mudanças positivas.

 

É fundamental que os políticos deem ao povo algo em que acreditar. Em vez de promessas vazias, um político deveria construir uma visão sólida, que inspire a população e lhes dê um sentido de pertença e propósito. Como dizia a poetiza americana Maya Angelou: “As pessoas vão esquecer o que fizeste, vão esquecer o que disseste, mas nunca irão esquecer a forma como as fizeste sentir.” Esta citação resume bem o impacto que um verdadeiro líder político pode e deveria ter. Não é pelas palavras ou pelos actos isolados, mas pela forma como nos faz sentir, que ele ganha o nosso respeito e a nossa confiança.

A política não deveria ser um espaço de jogos de poder, mas sim um espaço de construção de um futuro comum. Os políticos deveriam ser exemplos de integridade e de compromisso com o bem público. Deveriam ser pessoas que nos inspiram e nos guiam, não pela força ou pela autoridade, mas pela visão, pelo exemplo e pelo sentido de serviço. Na realidade actual, onde a confiança na classe política é talvez das mais baixas de sempre, é imperativo que os políticos recuperem o sentido de missão e de serviço, para que possam realmente representar e liderar a sociedade com um propósito maior.

 

Estabelecendo a relação com os 5 níveis da liderança:

 

★ Nível 1: Na política, este nível é comum, pois muitos líderes são seguidos por ocuparem um cargo, não por inspirarem confiança.

★ Nível 2: Na política, alcançar este nível implica que o líder se ligue verdadeiramente com o povo, criando uma relação baseada na empatia e no compromisso.

★ Nível 3: Um político neste nível é aquele que, além de prometer, entrega resultados, melhorando a vida das pessoas.

★ Nível 4: Na política, um líder que opere neste nível formaria uma nova geração de líderes capacitados e comprometidos com o bem público, promovendo um ciclo de melhoria contínua na liderança e gestão do país.

★ Nível 5: Na política, alcançar este nível significa que o líder deixou uma marca duradoura e indelével na sociedade, sendo lembrado pelo seu carácter e pelo bem que fez à nação.

 

Agora, como é que a liderança e a política influenciam o tão aclamado tema do Talento no nosso País?!

 

O Talento

Começando pelo próprio termo utilizado, o conceito de “retenção de talento” é frequentemente discutido nas organizações e nas esferas políticas, mas a ideia de “reter” talento per si carrega já um significado de controlo. Não deveríamos pensar em reter talento, mas sim em nutrir, inspirar e desenvolver o potencial de cada pessoa. Reter e potenciar estão, na minha perspectiva, em extremos opostos. Reter sugere-me prender. Potenciar sugere-me libertar. As pessoas nunca nos darão o seu melhor se se sentirem “retidas”, “presas”.

O reconhecimento é essencial para a materialização constante de talento. Quando uma pessoa sente que o seu esforço e as suas competências são reconhecidos, ela desenvolve um vínculo muito mais forte com a organização/empresa/País a que pertence. Esse reconhecimento vai muito além de recompensas financeiras. É uma questão de valorização e respeito. No entanto, em muitas organizações/empresas e em diversos sectores do Estado, o talento é completamente subvalorizado, e quando isso acontece, as pessoas procuram lugares onde sentem que podem ser plenamente apreciadas, cuidadas e acarinhadas.

 

Valores sólidos são essenciais para que o talento floresça. Quando uma organização ou uma sociedade é guiada por valores claros e autênticos, cria um ambiente que atrai naturalmente as pessoas mais capazes e comprometidas. Quando esses valores são esquecidos ou manipulados, o talento perde o propósito e, consequentemente, a vontade de permanecer.

A falta de fé (não obrigatoriamente religiosa) e de um propósito claro é um dos principais motivos que leva as pessoas a abandonarem o sítio onde estão. Quando um talento sente que não é representado, que as suas ideias não são valorizadas ou que o sistema familiar/social/profissional não se alinha com os seus valores pessoais, a decisão natural é procurar alternativas onde possa realizar-se plenamente.

 

Como ouvi certa vez “se o teu País não te dá o que queres e precisas, então muda de País.”

 

Toda esta temática vai muito além da visão redutora, e constantemente abordada, das melhores condições financeiras para que o Talento fique em Portugal. Porque como sabemos, o dinheiro é importante mas garantidamente não é tudo.

 

A pergunta mais importante que se coloca é:

Porque quero eu realmente permanecer aqui?

 

Existem naturalmente muitas respostas possíveis…

Mas eu quero estar aqui se, quando olho para o futuro, vejo algo positivo, algo de valor, onde tenho a possibilidade de me realizar e deixar um legado para que os meus descendentes e que eles possam também fazer o mesmo.

Os políticos e outros líderes, parecem-me na grande maioria, vazios de propósito, de sentido de missão.

Os líderes têm acima de tudo de dar às pessoas algo em que acreditar, algo que ultrapasse o físico e tangível. Têm que entregar esperança e visão de futuro.

Mas o facto de terem que o fazer, não significa que o façam. E independentemente de o fazerem ou não, cada um de nós individualmente, deve assumir essa própria posição de liderança na sua vida.

Porque se não o fizermos, vamos continuar a viver frustrados, ansiosos, deprimidos, sem qualquer tipo de coesão e sem sentido de vida.

Esperar que alguém faça por nós, é ainda um sintoma do “Sebastianismo”. É esperar que Dom Sebastião volte para nos salvar…

 

Lembro-me sempre de uma frase do nosso querido Prof. Manuel Sérgio (paz à sua alma), aplicada no mundo desportivo, em que ele dizia “o futebol exalta as taras da sociedade.” Será que com a política acontece o mesmo?! Será que a política exalta as taras da sociedade?!

 

Não obstante a tudo isto, sendo exigentes e criteriosos com os nossos líderes, é fundamental sê-lo igualmente connosco próprios. Porque no momento em que começarmos a ser as pessoas que gostaríamos de ter ao leme das nossas organizações, tudo muda.

Apontar os pontos de melhoria nos outros não é suficiente. É preciso fazer esse trabalho em nós. É preciso ser o exemplo que queremos ver.

O que devo eu fazer?

Que líder quero eu ser?

Que decisões devo eu tomar?

Quais são os meus valores?

Qual o meu propósito?

Qual a minha missão visão e missão?

Afinal o que estou eu aqui a fazer?

 

Como disse o grande John F. Kennedy “Não perguntes o que o teu País pode fazer por ti. Pergunta-te antes, o que tu podes fazer pelo teu País!”

 

Sê tudo quanto queres ser, porque a mudança começa e acaba em ti. Tudo o resto é reflexo.

 

Sempre com amor e sentido de serviço.

Um forte abraço

João