É muito comum ouvir CEO’s dizerem que o mais importante nas suas empresas são as pessoas. E isso é muito bom. Que as pessoas são o seu maior activo. Isso é extraordinário.
Mas sendo as pessoas, elas têm que vir como prioridade nas agendas diárias das organizações, caso contrário transformam-se rapidamente em passivo.
Se tudo o resto vem primeiro que as pessoas, então elas não são uma prioridade. É como dizer que a minha família é uma prioridade, mas não passo tempo nenhum com ela. Ou que a relação com a minha companheira(o) é uma prioridade, mas o meu foco está em todas as outras coisas, menos na relação.
Uma prioridade é tudo aquilo onde coloco a minha intenção e atenção, quer eu queira quer não queira. É tudo aquilo que ocupa mais espaço na minha agenda. Quer eu queira, quer não queira.
A título de exemplo, pessoalmente como filho, trocaria todos os momentos em que os meus pais estiveram fora de casa a trabalhar para me darem condições para que pudesse fazer outras coisas, nomeadamente, estudar, por mais tempo de qualidade com eles.
Tempo de qualidade para desenvolver capacidades que vim a perceber mais tarde, me viriam a fazer muita falta na minha vida adulta.
E não, isto não é uma reclamação pública :-) Falo bastante com os meus pais e este tema já foi falado tranquilamente. Até porque eles fizeram o melhor que sabiam.
Não há nada de errado em trabalhar muitas horas, ser determinado, ganhar dinheiro, dar a possibilidade aos filhos de estudarem, de usufruírem e viverem outras experiências…se for assumido como tal.
Mas o meu ponto aqui é: chamemos as coisas pelos seus verdadeiros nomes.
Evoluamos de transacional para relacional
É verdade que contratamos pessoas para fazer um trabalho, para desempenhar uma função dentro de uma estrutura, estrutura que deve naturalmente existir. Do ponto de vista transacional tudo bem.
Mas ao nível relacional se continuamente as tratarmos como um recurso e não como pessoas, continuaremos a alimentar uma linha de produção e não estaremos a ajudar cada um a ser o melhor que pode ser. No fim da linha saímos todos prejudicados.
A empresa porque continua constantemente à procura de pessoas que “não existem” e as pessoas porque continuam à procura de sítios onde possam ser quem são e onde se possam desenvolver para serem quem querem ser.
O que é que um talento mais quer? Ser trabalhado!
Numa altura em que retenção de talento é um dos temas mais falados, acredito, não só pela minha experiência, como por tudo aquilo que vou vivendo e observando, que talento está cada vez mais relacionado com propósito do que com qualquer outro indicador.
Os departamentos de Recursos Humanos deveriam mudar de nome para: Departamentos de Capacitação.
Isto porque a principal função deste departamento é/deveria ser ajudar as pessoas a serem melhores. Não estou a sugerir que não o fazem, estou a sugerir que deveriam alargar o seu espectro de acção e entendimento.
Pessoas melhores são melhores profissionais. Melhores profissionais produzem melhores resultados.
São recorrentes os exemplos e analogias entre os desportos colectivos e a performance de outras equipas profissionais (empresariais).
Aqui fica o meu TOP 5:
1. Vestir a camisola e suar a camisola não é uma e mesma coisa;
2. Quando o meu colega falha, incentivo-o a melhorar, não evidencio a sua falha para que eu possa sobressair; a solidariedade é absolutamente crucial e tem que ser estimulada;
3. A EQUIPA é composta por todos os elementos que contribuem, cada um a ser o MDM (Melhor Do Mundo) na sua função; usando o futebol como exemplo e, como até o José Mourinho disse há relativamente pouco tempo - quem está no banco tem tanta importância como quem joga. Todos são muito importantes, desde o apanha-bolas ao roupeiro (pessoa que trata dos equipamentos). Mas de uma forma geral é-nos difícil perceber isso;
4. Não treinamos desportistas. Treinamos pessoas que praticam um desporto;
5. O treino invisível tem mais peso do que qualquer outra prática visível.
O que acredito que pode ser feito e/ou reforçado para termos organizações mais alinhadas e potenciadoras de talento?
1. Uma visão de longo prazo muito clara e sem margem para dúvidas - o que se quer atingir e contribuir como organização;
2. Permitir e proporcionar um ambiente onde as pessoas possam ser pessoas;
3. Ajudar a melhorar/optimizar os seus pontos fortes (em vez de tentar reduzir os seus pontos fracos);
4. Desenvolver uma cultura de auto-responsabilidade; a cultura de uma organização é tudo aquilo que se vive e não está escrito em lado nenhum;
5. Desenvolver uma liderança inspiracional e não uma gestão pelo medo e controlo; (só conseguimos ser inspiradores quando temos uma visão clara de - para onde vamos);
6. Liderança trata de pessoas, gestão trata de processos;
7. Desenvolver uma linguagem de integração e franqueza, onde tudo pode ser dito se for dito com respeito;
8. Viver transversal, vertical e diariamente os valores da organização (eles não servem só para estar afixados na parede ou para serem falados uma vez no kick-off anual);
9. Ter quatro premissas:
I- A primeira pessoa que se deve desenvolver é o líder da organização, caso contrário irá sempre existir e exercer efeito “tampa”;
II- Todas as pessoas da equipa têm mais talento do que aquele que estão a mostrar no momento; providenciar estrutura para que elas o possam desenvolver, a par com um ambiente de confiança, apoio e suporte ao risco sem “julgamentos de guilhotina” (fazes bem ou sais);
III- Todas as pessoas estão a viver um problema/drama pessoal que as afecta e como líder/facilitador posso fazer a diferença nas suas vidas;
IV- Um grupo de pessoas não é obrigatoriamente uma equipa; numa equipa as pessoas confiam e encorajam-se umas às outras.
Tenho uma convicção muito forte no que toca a toda esta temática: Pessoas não se gerem. Pessoas lideram-se. E não se gerem porque simplesmente não são recursos.
Acho que nada do que escrevo aqui é novo. E também acho que na realidade não precisamos de nada de novo.
Precisamos de olhar para as pessoas como pessoas. Precisamos de mais verdade e de nos humanizar ainda mais.
O meu programa de capacitação de equipas - Hack My Team
Foram todos estes motivos e mais alguns que ficaram de fora neste texto, que me levaram a desenvolver um programa de optimização de equipas com base em 3 pilares: Liderança, Comunicação e Colaboração - o Hack My Team.
Um programa com uma implementação de até 12 meses (não acredito em pílulas mágicas e mudanças efectivas demoram tempo) completamente alinhado com a minha visão e propósito pessoal:
Ajudar pessoas e organizações a libertarem-se de condicionalismos e a catalisarem todo o seu talento.
Como sempre, espero ter contribuído.
Um forte abraço intencional
João