Acredito que a maior parte de nós, tem consciência da importância e impacto que as crenças têm na nossa vida, na forma como olhamos as três fases do tempo - passado, presente e futuro, na também tridimensionalidade eu-outros à minha volta-sociedade.
As nossas crenças são construídas ao longo de anos, principalmente da infância à adolescência, por todos os agentes educativos e culturais.
Escola, pais, amigos e ambiente têm um papel de enorme responsabilidade, senão único, na forma como lidamos connosco próprios, com os outros e com a sociedade em geral.
São as sementes que nos lançam em tenra idade que contribuem para a pessoa que nos iremos tornar.
O poeta António Aleixo disse-o na perfeição:
“Não sou esperto nem bruto
Nem bem nem mal educado
Sou simplesmente o produto
Do meio onde fui criado.”
Se queremos mudar os resultados que obtemos, temos que mudar as nossas crenças.
Não vale a pena mudar um comportamento, se não mudarmos as nossas crenças em primeiro lugar. A crença coordena/orienta o comportamento. Dito de forma mais simples, ninguém faz algo de acordo com aquilo que não acredita.
Existem centenas de exemplos que refletem apenas uma mudança de comportamento e não da crença em si.
Vejamos a questão da prática do exercício físico. Quantas pessoas conhecem que dizem “Este ano vou começar a treinar 3 vezes por semana! Preciso mesmo de ficar em forma”?
Ao fim de um mês já só treinam duas vezes, depois uma vez e depois abandonam porque… “agora não tenho tempo”.
Só há uns anos atrás percebi que, as sementes que me foram semeadas foram as sementes da normalidade, do culto do médio. Só nessa altura percebi que sofria de normose.
A normose define-se como o conjunto de normas, conceitos, valores, estereótipos, hábitos de pensar ou agir que são aprovados por consenso ou pela maioria.
Quase todas as pessoas parecem querer encaixar no padrão, no estereótipo que a sociedade afirma como normal.
Desde miúdo, menino mesmo até à adolescência, a expressão “sou do contra” fazia parte do meu léxico de forma constante. Não sei se por implicância, se para ser diferente ou para me afirmar. A verdade é que a normalidade sempre me incomodou.
A quantidade de vezes que ouvi:
- O óptimo é inimigo do bom;
- És adepto da Lei do Menor Esforço;
- Não faças isso! Vês alguém fazê-lo?
- Todos os teus colegas têm esta disciplina por isso tu tens também;
- Todos vão para ali, tu vais também;
Qualquer um de nós, que tenha sido sujeito a esta pressão normativa sabe como continuar esta lista…
A partir dos meus vinte fiz um esforço gigante para me adaptar, para me incluir, para ter um grupo de amigos como todos os outros. Nunca consegui. Comecei a achar-me pouco sociável, que não gostavam de mim, que era pouco cool. Então comecei a usar a roupa que todos usam, a calçar o que todos calçavam, a ouvir a música que todos ouviam, a frequentar os locais que todos os outros frequentavam.
Isto só durou, felizmente, até aos meus trinta. Hoje a minha consciência é bem diferente.
Viver em sociedade, em comunidade, regido por regras de cooperação e partilha claras tudo bem. Ser igual a todos os outros, anular a nossa individualidade, os nossos dons só para ser aceite, isso já é um problema.
Não é uma descoberta equivalente à pólvora e muito menos um assunto novo. Mas parece que não se quer falar sobre ele, ou não se lhe dá a devida importância. Na verdade, os grandes problemas da sociedade são conhecidos há muito, mas constantemente são camuflados e relativizados.
Se olharmos para a nossa história, todos aqueles heróis que impactaram a humanidade com a sua genialidade e que nos fizeram progredir, todos eles eram e, continuam a ser completamente fora da curva. Os que não se incluíam, não se enquadravam, aqueles que eram criticados, que eram colocados de parte, foram eles os responsáveis, por exemplo, por eu estar a escrever este artigo neste computador e que em segundos chega a milhares de pessoas como tu.
Richard Branson, por exemplo, tinha sérios problemas de dislexia e a aprendizagem tradicional sempre foi um grande desafio para ele. Deixou a escola aos 16 anos para fundar o seu primeiro negócio. Hoje tem mais de 400 empresas.
Não pretendo insinuar que só as pessoas que deixam a escola são empresários ou profissionais de sucesso, até porque empreender é um dever de todos, independentemente da posição. Mas temos cada vez mais que considerar todas as capacidades de um indivíduo, ao invés de as reduzir ao conhecimento intelectual.
A única forma de te conseguires livrar desta doença social e começares a ser a pessoa que no fundo sabes que tens o potencial para ser, é fazeres um trabalho individual de crescimento e evolução.
Algumas dicas para fazer este caminho:
1. Conhece a tua unicidade. O que tens que mais ninguém tem. Cada um de nós tem um talento especial;
2. Ama quem és. Vais ter que lidar contigo a vida toda. É bom que te saibas relacionar contigo próprio;
3. Investe tempo sozinho. Sem distracções, sem telefones, sem computadores, sem tv, nada…apenas tu. Estamos constantemente a ser bombardeados com mensagens sobre o que devemos ver, usar, o que comer, o que dizer, o que ler, como agir… Investir tempo dar-te-á uma maior amplitude sobre quem tu és e o que queres. Será um pouco estranho no início, mas com treino conseguirás implementar esta rotina.
4. Descobre o teu propósito. Dizer isto desta forma parece algo saído de um conto de fadas. Mas a verdade é que se não souberes verdadeira e genuinamente qual é o teu papel aqui, vais andar constantemente à procura de respostas no sítio errado que, naturalmente, nunca te irão satisfazer.
5. Sê intencional no teu crescimento e desenvolvimento. A escola ensina-nos algumas coisas, mas limita-nos bastante, principalmente no desenvolvimento da inteligência emocional e questões comportamentais. Já reparaste que a maior parte das empresas contrata pessoas por um motivo (recurso técnico) mas depois tipicamente despede-as por outro? (conflitos, assiduidade/pontualidade, fraca atitude, problemas de comunicação). Arriscaria dizer que mais de 90% das razões de despedimento são comportamentais.
6. Rodeia-te de pessoas que te estimulam, que te fazem crescer. Nós tornamo-nos a média das cinco pessoas com quem mais nos relacionamos, já o disse Jim Rohn.
7. Exclui quem não te agrega valor e te consome tempo. Se constantemente as pessoas com quem te relacionas te puxam para baixo (ou para trás, como queiras definir) e passam a maior parte do tempo a falar dos outros, talvez esteja na altura de te afastares delas. Elas estão mesmo preocupadas é com os outros.
Num contexto mais empresarial, quando me perguntam: “João o que posso fazer para melhorar os resultados da minha empresa?” - a minha resposta é sempre a mesma: “Começa por te desenvolver a ti próprio. Desenvolve a tua consciência, descobre o teu verdadeiro propósito, cresce as tuas capacidades de liderança, de comunicação e talvez consigas começar a atrair pessoas diferentes que ajudarão a tua empresa voar.” Bem confesso que não digo só isto, mas esta frase resume o que penso sobre o assunto.
As nossas organizações, sejamos nós empresários ou empregados por conta de outrem, terão sempre a dimensão das nossas próprias capacidades.
O grande Carl Jung disse “só os medíocres aspiram à normalidade”.
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Acredito que esta semente seja diferente das outras.
Com respeito e determinação em servir.
João Cordeiro